Turista ou Viajante?

Preferes ser um turista ou um viajante?

​Na maioria das vezes eu prefiro ser um viajante! Em algumas situações muito específicas, como naquela em que estou passando por um perrengue não planejado fora do meu país (ou dentro dele), aí prefiro ser um turista! Mas nesse momento não se torna mais opcional ser um ou o outro, não é mesmo? No meio do perrengue não planejado como viajante, não tem como voltar atrás. Aí você tem que se aventurar. Talvez sentir um gostinho amargo na boca, certamente botando a cara à tapa e se virando nos trinta pra achar uma solução praquilo que estás a passar! Depois você vai rir dessa história e conta-la para seus amigos. Essas são as melhores histórias de viagem! Concorda?

Qual foi o seu último perrengue chic? Conta aê lá embaixo!

Entendeu a diferença entre viajante e turista? Vou explicar melhor….Ao ser um viajante você se entrega a experiências e situações às quais um turista jamais vai passar. É o imponderável. É o gostinho por uma aventura. É o friozinho na barriga que sentimos mais forte na infância reaparecendo na vida adulta. Quem não gosta disso, bom sujeito não é.

Portanto, se você ainda é turista, permita-se parar, respirar, procure se informar, planeje o seu roteiro não de forma totalmente engessada, para que durante sua viagem consigas tomar um caminho numa estrada diferente daquele que tinha preestabelecido, por exemplo, pelo simples motivo de o ter achado mais bonito, à primeira vista numa bifurcação.

O viajante não se satisfaz apenas em pegar o ônibus (site seeing – hop on hop off, etc) e visitar os pontos turísticos de uma cidade. Ele prefere caminhar a pé pela cidade, para visitar os pontos turísticos também, mas deixa espaço no seu roteiro para o acaso, para no caso de em uma caminhada entre um ponto turístico e outro ele topar com uma rua charmosa, se permitir passar horas por ali, explorando-a. Caso tenha tempo, o viajante deixa o penúltimo e último dia do roteiro para repetir tudo que mais gostou naquela cidade! Fica a dica. Ela é “de grátis”.

O turista não tem esse tempo na agenda dele, pois os horários são cronometrados para toda a programação. O viajante acidental ou incidental. Já ouviu falar em uma dessas expressões? Adquiriram notoriedade a partir de um filme estadunidense chamado The Accidental Tourist que concorreu ao Oscar de melhor filme em 1988. A sinopse basicamente falava de um escritor de guias de viagens que não gostava de viajar e escrevia seus guias de viagem com base em outras fontes (lembrando que na época não tinha google). Após a trágica morte de seu filho tem a vida e casamento desmantelados. Seu renascimento como uma phoenix acontece quando conhece uma jovem extrovertida divorciada e treinadora de cães que tem um filho.

Bom, mas o termo viajante/turista acidental ou incidental tem basicamente a ver com o fato de o personagem central curiosamente ser muito certinho e não gostar de imprevistos. Tanto é que não saia nem de casa pra escrever os seus guias de viagens de locais distantes. Com o furacão que chegou a sua vida ele tem de se adaptar a uma nova realidade. E qual é essa realidade? A do imprevisto, a da informalidade, a da espontaneidade, a do nosso famoso “jeitinho”, etc.

Pra usar uma palavra muito mencionada hoje em dia: RESILIÊNCIA. É muito mais fácil fazer um guia de viagem sem sair de casa, hoje em dia. Me fala um lugar que tu queres viajar. Quantos dias vai ficar. Qual o seu orçamento. Em alguns dias eu te entrego um guia de viagem pronto, com reserva em hotéis, passeios, reservas nos melhores restaurantes, dicas personalíssimas. Basta eu ter acesso a internet e usar meu tutano. Quer teu roteiro todo pronto, mastigadinho? Manda um oi, que eu faço. A um precinho módico!

Mas traduzindo o termo para o português brasileiro, o que seria um turista acidental ou um viajante incidental? Eu lhe pergunto: existe ainda tempo pra isso, o improviso? Ou será que em algum tempo houve alguém que viajou assim? De forma romântica e casuística? E por viajante acidental e incidental, eu quero lhe questionar: na correria do mundo atual, existe tempo para alguém vagar por aí pelo mundo se não for em um ano sabático? Isto é, você investiria sua grana e tempo em um roteiro pouco estudado antes de viajar, com a expectativa de apenas se deslumbrar e se admirar com um local (seja ele praia, montanha, cidade ou natureza), com disponibilidade para parar e conversar com os habitantes deste local, sem pressa, por puro prazer de conhecê-los ambos o local e as pessoas? E daí extrair uma das viagens mais ricas em conteúdo de sua vida? Isso ainda é possível? Não sei…

Creio que dificilmente alguém faria isso hoje em dia. Mas eu lhe proponho justamente isso!​

Arranje tempo pra fazer uma viagem: digamos, duas semanas. Melhor, um mês de férias. Algúem ainda tira um mês de férias direto? Escolha um destino a esmo no mapa mundi vintage em formato globo que você como bom amante das viagens detém em casa. Girando o globo e escolhendo de olhos fechados um lugar para fazer uma viagem, você primeiro poderá criar as seguintes regras excludentes de destino: se não for um país em guerra, ou se o país for daqueles com sérias questões religiosas problemáticas não resolvidas, ou se o povo deste país for extremamente inóspito ao viajante/turista e você tiver conhecimento prévio disto. Eu diria que um país em desenvolvimento, ou um país com sérias dificuldades financeiras ainda estariam elegíveis como destino, desde que observadas as questões excludentes anteriores. E você? Toparia investir seu tempo e dinheiro nestes locais? Ou preferiria viajar para a Europa ou Estados Unidos novamente? Eu diria que no meu raciocínio um país igual ou em piores condições que o nosso deve ser visitado, mas porquê? Por que além de provavelmente não ser um local caro, comparado com o seu poder aquisitivo, os habitantes do local certamente serão mais amistosos e curiosos em relação ao turista/viajante comparados com os dos países desenvolvidos. E com base em quê eu afirmo isso? Por pura prática e intuição e em alguns casos, por achismo mesmo! Viajar não é ciência exata. Mas é sério. Me “escute”: já fui melhor tratado em países em desenvolvimento do que em países ricos simplesmente por que nos ricos o turismo é uma das grandes fontes de renda e os habitantes locais já estão saturados de receber tantos turistas e talvez não estarão abertos a trocar ideias, parar para prosear, ou em última instância, lhe convidar para ir em sua casa.​

Em Veneza, local supersaturado de turistas INFELIZMENTE já fui destratado por balconista em um café, atendido com impaciência por garçom em restaurante e no balcão do hotel.

Resultado: apesar de ser uma das cidades mais lindas e incríveis que ainda é possível visitar, não faço mais questão de revisitá-la nem tão cedo. Em comparação, já fui ao sul da Itália e fui muitíssimo bem tratado e alimentado por pessoas incríveis e afetuosas a preços módicos, diferentemente da caríssima Veneza! Quem ainda não sabe, a Itália é dividida economicamente que nem o Brasil, mas ao inverso. Deixa explicar melhor: no Brasil o norte e o nordeste são pobres e em desenvolvimento, enquanto o sul, sudeste e centro-oeste são desenvolvidos. Correto? Mais ou menos… essa divisão é cheia de estigmas, mas foi o que aprendemos na escola lá atrás. Na Itália é justo o contrário: O norte é rico e o sul é menos desenvolvido. Mas não se compara com o Brasil. A Itália ainda está fincada na Europa e é muito mais rica e desenvolvida que o Brasil.

Barcelona? Ah, que atmosfera linda. Que pegada de Rio de Janeiro da Europa ela possui. Mesma coisa de Veneza: gente cansada de receber o turista/viajante. Mas e a Andaluzia? Região considerada a mais pobre da Espanha, tem as cidadezinhas pintadas em branco (pueblos blancos), em cima de montanhas com castelos e/ou igrejas no topo, envoltos de pés de azeitona a perder de vista mais lindas da face da terra, com um povo hospitaleiro e custos menos caros do que a incensada Barcelona.

Concluindo, finalmente: além de ser bem tratado, alimentado e nutrido em sua alma como viajante em um país em desenvolvimento, estarás ajudando a economia local, deixando boas lembranças (assim eu espero!) para os habitantes locais, bem como sendo embaixador honorário do seu país neste local, uma vez que provavelmente serás um dos primeiros a desbravar esta região como brasileiro.

Estarás deixando uma marca indelével por onde passou. Isso talvez seja romântico demais. Anthony Bourdain provavelmente discordaria dessa afirmação. Ou seria ele, o romântico…

Mas em última instância, você estaria pagando menos e recebendo mais em troca! E não é uma promoção pague 2, leve 3. É o seu tempo e dinheiro investido numa experiência de vida significativa que talvez mude alguma chavezinha dentro de ti. Será? Viva uma dessas e depois me conta como foi! Eu já me aventurei em países abaixo do ranking, comparado com o Brasil em várias ocasiões. Mas que ranking? Há diversos rankings de países: mais ricos – menos ricos, educação irretorquível – educação paupérrima, e por aí vai. Estes rankings, apesar de terem metodologias rígidas e resultados certeiros, não levam em questão subjetividades e particularidades que são únicas de cada país ou região. Mas também me aventurei em países caríssimos, com custo de vida absurdos. Me arrependo? Jamais! Toda viagem é incrível e válida em demasia! Creia em mim.

Por Published On: junho 25th, 2024Categorias: blogTags: , , ,

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