Comilança na viagem

Vamos ao que REALMENTE interessa!

Das experiências mais autênticas que um viajante pode ter em um novo e inexplorado destino é conhecer e se deliciar com comidas de todo o tipo e de toda variedade de sabores; além dos seus bares, restaurantes, cafés, lanchonetes que vendem quitutes diferentes daqueles a que estás acostumado a comer. E melhor: por toda uma miríade de preços. Basta uma coisa: tomar cuidado com a proveniência da comida e como ela é manipulada. Se estiveres na Índia, tome cuidado inclusive com o gelo que colocam no seu copo pra tomar um suco ou até um refrigerante; mas estando num país europeu, ou na Américas , de modo ​geral uma questão como o gelo não deverá ser motivo de preocupação.

Meu deus do céu, já parastes pra pensar que o ser humano lá atrás, por volta de 1500 ou um pouquinho antes disso programava viagens de navio para tentar encontrar um caminho mais curto somente pra chegar perto da Ásia pra comprar canela, curry ou cravo? Hoje em dia isso parece loucura, mas certamente ainda é feito! Nessa época fazia ainda mais sentido. E o fizeram simplesmente por que a comida deles ficaria melhor saborizada com esses temperos. A comida na Europa antes de 1500 era bastante rudimentar e sem graça. Então temperar ela com canela e cravo pra inclusive possibilitar durar mais tempo sem estragar fazia todo o sentido pra eles e pra dar um gostinho a mais. De modo geral, a comida nessa época equivalia a um caldo ou sopa de alguma fonte de proteína, com uma fonte de carboidrato, como trigo tudo junto e misturado formando uma gororoba de fazer arrepiar um cristão. E outra: esse caldo as vezes era mantido no forno a lenha por dias, só pra não estragar… haja lenha!

Sabes de onde surgiu a palavra RESTAURANTE?

Vem do françoise RESTAURACION (restôrración – essa é a pronúncia correta). E inicialmente, o primeiro prato servido era justamente esse caldo tipo um “mingal de cachorro” lá da minha terrinha (PERNAMBUCO), contendo um tutano, proteínas, umas fontes de carboidratos e mais algumas “cositas” mais. A sopa era restauradora das energias de quem a tomava.

Daí que vem o termo restôrración, ou restauração. Restaurante vem daí! Se liga, cabra!

O primeiro restaurante na França não pode ser considerado um restaurante nos termos que nós conhecemos hoje.

Ele era uma taberna. Um local de passagem para trabalhadores/aventureiros que se deslocavam de uma vila pra outra. Uma espécie de estalagem também. As pessoas dormiam ali entre um local e o outro, caso o caminho fosse longo e não se completasse em um dia de caminhada. Chegando lá, era oferecida essa sopa/caldo com muitas calorias que repunham as energias.

Há notícias de que o caldeirão desse caldo passou anos e anos no fogão à lenha, e o cozinheiro da época apenas colocava mais ingredientes quando o caldo ia terminando pra refazer o preparo.

Já pensou?! É MUITO DOIDO parar pra pensar isso hoje, época em que nossas fontes de recursos naturais estão sendo exterminadas pela humanidade. Mas na época fazia todo o sentido. Além de sempre ter aquele preparo pronto pra quem precisasse de uma refeição de sustância, a lenha pra manter o caldeirão quente era abundante nas florestas do entorno da Europa medieval. Se lembrem de que não havia geladeira, então manter a sopa aquecida não a estragava!

Já paraste pra pensar que a comida italiana como a conhecemos hoje só foi inventada nos últimos 150 anos??

Pizza, macarrão, molho de tomate… tudo isso foi criação muito recente. Uma curiosidade: tu sabias que o tomate é uma planta originária das américas e que algumas das suas versões originais eram venenosas? Pois é, o tomate só virou molho na Itália há muito pouco tempo em termos HUMANOS. Agora vá falar isso pra um italiano…

A comida francesa só ganhou o seu status atual nos últimos 50/100 anos. Antes disso ela ainda engatinhava. Dizem que foi Catarina de Médici, uma italiana, que levou para o França o costume da comensalidade. Os bons hábitos à mesa e o uso inclusive de garfo foi criação humana dos últimos 150 anos. Parece loucura pensar isso, né? Antes, os europeus comiam com a mão, sem pratos, apenas uma faca afiada que além de cortar, fazia o lugar de garfo quando se espetava a comida levada a boca, que nem outros povos “selvagens” faziam.

Agora vá falar isso pra um português, por exemplo…

De modo geral, um português um pouco mais velho ou um pouco mais xenófobo terá dificuldade em lhe responder sem ser petulante. Ele iria partir do pressuposto que você, brasileiro, é um serzinho inferior desprezível e que está invadindo o seu país. Tu crês que um taco ou um burrito faz muito mais sentido como alimentação milenar para um mexicano do que um filé com fritas ao molho béarnaise para um francês? Olhe, olhe, pode ser que, aqui novamente, um francês se sinta ofendido com isso! Mas não tô nem aí. É minha opinião. E ela tá baseada em alguns dos livros sobre história da gastronomia que li. Câmara Cascudo, um intelectual potiguar pouco conhecido fora dos círculos de cozinheiros ou interessados em gastronomia nacional que o diga!

Viva o Rio Grande do Norte, o seu povo e a sua comida!

Você seria capaz de provar um grilo ou gafanhoto frito?

Pois é, já provei, numa calçada de uma feira de artesanato enorme na Cidade do México. Tenho até testemunha: uncle Bradford Smith. O grilo é bem crocante. O sabor lembrou um pouco o de um percevejo. Mas tu vais me questionar: como tu sabe o gosto do percevejo? Bom, eu não sei. Só sei que se eu comesse um percevejo, este seria o seu gosto! É não. Brincadeirinha. Sabia que nosso olfato e paladar estão intimamente ligados? Se não, fique sabendo a partir de agora. É com base nisso que afirmo: grilo e percevejo tem um sabor parecido. Mas para um chinês habituado a ter insetos em sua dieta, esses dois bichinhos têm gostos TOTALMENTE DIFERENTES.

Também na Ciudad de México, pude provar pela primeira vez no premiado restorrând PUJOL, um molho de formiga sobre um micro milho assado. Pense num negócio saboroso! Outro sabor exótico que provei? Polvo filhote cru num mercado de peixe em Seoul, Coréia do Sul. Tenho o registro disso e comprovarei no post sobre a Coréia do Sul. Os microtentáculos ainda estavam se mexendo que nem rabo de lagartixa logo que cai. O polvo não estava vivo. Estava só tendo espasmos post mortem. Era bem gostoso num molho de gergelim e shoyu. Recomendo demais! Mas beleza. Isso daí é apenas um relato pessoal.

Vamos passar para o próximo tópico: numa viagem pra um país diferente, ou para um estado diferente do nosso brasilzão…

sempre temos a oportunidade de provar algo da culinária local que nos remetem a algum sabor da nossa infância que fazem os cabelos da nuca arrepiar, ou um sabor inteiramente novo, que nos faz querer a receita do quitute. Já aconteceu contigo? Conta aí lá embaixo e compartilha conosco!

Comer está no top 5 dos MAIORES PRAZERES da vida. Sendo o primeiro transar. O segundo comer. O terceiro dormir. O quarto se apaixonar (seja por alguém ou algo) e o quinto VIAJAR!! Seja viajar literalmente, ou viajar na maionese e aprender a rir disso.

E descobrir um hábito alimentar tão diferente do nosso numa viagem?

Isso é muito legal! No Sicília, ilha no sul italiano, os locais de 2 cidades em específico AMAM bolinho de arroz arbóreo frito com diferentes recheios (um dos melhores salgados que já comi na vida! Sério! E os recheios? Uma enormidade de variedades é encontrada, dentre as quais 4 queijos, cogumelos, bolonhesa – ragú, etc, etc). Num lugar (Catena), gostam dele no formato de uma coxinha. Já em Palermo, outra cidade na Sicília, os habitantes locais preferem e fazem o bolinho de arroz frito no formato arredondado. Tamanho duma bola de tênis. Dois arancini e você já está almoçado, ou jantado, ou com o pequeno almoço garantido (café da manhã em português falado em Portugal)!

E isso é motivo de disputas acaloradas entre as duas cidades que clamam pela autoria do mundialmente famoso bolinho de arroz, mais conhecido como arancini. Até o nome dele muda a sílaba final, conforme for a cidade, sendo chamado de arancinu em uma, arancina noutra (ou é homem ou mulher, de acordo com a cidade… se for arancini com i é no plural).

Criei até uma tese, que é só minha:

Nunca li sobre ela. Mas creio que possa ter alguma influência na criação do formato de um dos nossos salgados mais tradicionais, simplesmente a COXINHA! Ela tem o mesmo formato do arancini de Catena. E os locais dessa cidade justificam que o formato em cone do salgado deles é por causa do famoso vulcão Etna. Já na cozinha brasileira, alguém saberia dizer por que tem esse formato?? Se alguém souber explicar, ganha um brigadeiro! Prometo.

E só pra comprovar a polêmica, segue um artigo em inglês sobre o embate: Arancini or arancina.

Bom, por enquanto é isso. Se quiserem que eu fale mais sobre curiosidades alimentares, é só latir ou miar daí. Tenho milhares de exemplos e curiosidades sobre comida guardados em algum lugar do meu miolo de pote.

Por Published On: julho 16th, 2024Categorias: blogTags: ,

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